Acordo com o som de alguém batendo na minha porta enquanto a luz do sol começa a entrar no meu quarto. Geme, cobrindo a cabeça com o travesseiro. É muito cedo.
"Scarlet?" Ouço a voz da minha mãe do outro lado da porta.
"Vai embora," murmuro, minha voz abafada pelo travesseiro. Alguns segundos se passam e suspiro, pensando que ela já foi embora. Então ouço a maçaneta girando e minha mãe entra, olhando para mim com uma expressão nada contente.
"Já devia estar de pé, mocinha. Hoje é um grande dia. Todos já estão acordados e você ainda está na cama?"
"Mãe, por favor... me deixa dormir."
"Não," ela responde firmemente. "Levanta. Precisamos encontrar um vestido bonito para você. Tem que estar deslumbrante para esta noite."
"Esta noite?"
"Esqueceu?"
"O quê?"
"O bando Shadow está de visita. O Alfa Blake, junto com o Beta dele e seus guerreiros, vêm esta noite."
No momento em que ouço isso, faço uma careta de descontentamento. Eu quase esqueci. Meu pai convidou o Alfa Blake para visitar nosso bando há muito tempo, oferecendo uma trégua. Por um tempo, o Alfa não respondeu. Mas quando respondeu, a carta dizia que ele queria algo em troca. Meu pai acha que ele quer ouro. Mas mal acredito que o infame Alfa Blake, que pode ter o que quiser, matar quem desejar, vá pedir um monte de moedas em troca de paz.
Eu o desprezo. Por tudo que fez ao nosso bando. E meu pai é um tolo por confiar nele.
"O bando precisa estar apresentável esta noite," minha mãe continua, "e você, mocinha, precisa se comportar impecavelmente. Não quero que faça nada que possa desagradar o Alfa."
Sentando, olho para minha mãe e aceno. "Sim, mãe."
Ela suspira ao ver minha expressão triste. "Entendo como se sente, querida, mas tem que entender que essa é a única maneira de fazermos as pazes com nosso inimigo. O Alfa Blake tem um bando forte e somos impotentes contra seus guerreiros. Você tem que entender, seu pai e eu só estamos fazendo o que é melhor para o bando."
"Entendo."
"Bom." Com isso, ela coloca meu cabelo atrás da orelha e beija minha testa. "Preparei seu café da manhã na cozinha." Ela começa a andar pelo meu quarto, abrindo as cortinas e deixando o sol iluminar a escuridão. O cabelo vermelho dela brilha intensamente quando a luz do sol o toca. Minha mãe é ruiva, assim como eu. Alguns dizem que me pareço com ela quando era mais jovem. Com meu longo cabelo ruivo e olhos azuis, as semelhanças são impressionantes.
"Você parece exausta, querida," ouço minha mãe dizendo. "Dormiu bem na noite passada?"
"Não," respondo sinceramente.
"São aqueles sonhos de novo? Sobre ver um grande lobo negro?"
Aceno com a cabeça. "Geralmente sonho em perseguir o lobo. Mas dessa vez... ele que estava me perseguindo."
"E ele te pegou?"
"Não."
"Hmm... Talvez você devesse deixá-lo te pegar e ver o que isso significa. Pode ser surpreendente."
"É só um sonho, mãe. Não acho que signifique algo."
"Você nunca sabe," ela dá de ombros. "Vamos, querida, você precisa tomar café da manhã."
"Você parece um cara gordo com cabelo comprido," comenta minha amiga Janna, olhando meu vestido folgado no espelho.
"Será que estou tão mal assim?" suspiro.
"Não, mas o vestido está," ela responde, pegando outro vestido do meu armário. "Experimente este aqui."
Tiro meu vestido folgado e confortável, experimentando o novo que ela acabou de me dar. "Bom, este parece bom."
"É, bem melhor," ela concorda. "Por que você tá se arrumando toda como uma Barbie bonita pro Alfa? Ele é um selvagem. Não acho que ele vai se importar com uma garota bonita usando um vestido bonito."
"Eu sei, mas minha mãe insiste que eu devo estar linda e apresentável hoje à noite."
"Então, só coloca um moletom e uma saia, isso é apresentável o suficiente."
Dou uma risadinha. "Não acho que seja."
"Quem liga pra opinião do Alfa Blake, de qualquer forma?"
"Não fala isso. Se meu pai te ouve, você tá lascada."
Ela faz beicinho. "Por quê? Ele sabe que todo mundo odeia o Alfa Blake. A gente só tá convidando ele pra um acordo e nada mais. Não devemos nada pra ele."
"Ouvi dizer que ele quer algo em troca," eu digo baixinho.
"O que é?"
"Eu não sei. Mas meu pai acha que ele quer ouro."
"Temos muito ouro."
"Eu sei, mas... o Alfa Blake não é conhecido por roubar ouro, principalmente porque ele não precisa de mais do que já tem. Ele gosta de matar, quer vitória, e acho que é isso que ele tá buscando."
"Espera, você tá me dizendo que ele vem hoje à noite... pra matar todo mundo?"
"Eu não sei... mas tô com medo pela segurança do meu pai. Ele tá cego pelo luto. Perdemos muitos guerreiros na última guerra e vidas inocentes estão em jogo. Ele quer fazer algo pra salvar a alcatéia."
"Se algo ruim vai acontecer hoje à noite, a gente tem que avisar os outros."
"Vou contar ao meu pai sobre isso. Espero que ele me escute."
"Claro que vai. Você é a filha dele."
Eu balanço a cabeça, mas, pra ser sincera, não sei se meu pai vai me ouvir. Por ser menina, não confiam que eu tenha as opiniões certas. Ele diz que me irrito facilmente e que sou boa em guardar rancor. Mas essa sou eu. Não confio em todo mundo. Isso é tão ruim assim?
"Você já viu o Alfa Blake, o destruidor?" Janna se pergunta em voz alta.
Olho para ela com a mesma curiosidade nos olhos. "Nunca vi o rosto dele, mas meu pai me contou algumas coisas sobre ele. Como seu lobo é grande e sua estatura fisicamente mais forte. Ele lutou no campo de batalha com uma força inacreditável. Disseram que ele é um monstro, alguém que ninguém ousaria enfrentar."
