POV de Melanie

"Então o aniversário de vocês é neste sábado?" Eu pergunto aos meus dois melhores amigos, Liam e Lily. Eles são gêmeos idênticos e somos amigos já faz 3 anos.

"Sim" Lily responde hesitante, eu não sei porque, mas desde que nos tornamos amigos, nunca estive na casa deles, só saímos na minha. Eles nunca me convidam para os aniversários deles também, esse seria o primeiro, se eu der sorte.

Às vezes fica solitário em casa, já que minha mãe está sempre viajando e trabalhando, então desejando a companhia dos meus dois melhores amigos não é pedir demais, certo?

"Estou convidada dessa vez?" Eu pergunto fazendo biquinho, porque sei que eles não resistem a essa carinha.

"Claro" Liam concorda, me fazendo dar um gritinho de felicidade.

Finalmente.

"Sim" Eu exclamo, abraçando-o forte e ele solta uma risada, fazendo a covinha dele aparecer. Ele tem uma na bochecha esquerda. Lindo.

Meus dois amigos são realmente belos, qualquer um pode facilmente perceber que são gêmeos, às vezes sinto inveja da beleza deles. Não que eu seja ruim.

Eles têm muita sorte em ter um ao outro, me pergunto o que sentiria se eu tivesse um irmão. Sem dúvida, seria incrível.

"O Jake pode vir também?" Eu olho para eles esperançosa, Jake é o meu namorado e estamos juntos há 6 meses.

Nos conhecemos desde a infância. Fomos grandes amigos até o ano passado, quando ele confessou que tinha sentimentos por mim. Sendo a pessoa sensível que sou, não o rejeitei com medo de perder ele e nossa amizade. Também, a solidão em casa contribuiu para eu dizer sim a ele. Às vezes me sinto culpada, porque ele é uma boa pessoa e merece ser amado, quem sabe, talvez no futuro eu aprenda também.

"Não sei, Mel, meu irmão disse estritamente familiares, desculpe," Liam diz se desculpando e eu aceno em compreensão.

Espero não estar invadindo.

"Seu irmão, ele é atraente?" Eu digo de maneira brincalhona para eles e eles resmungam em uníssono.

"Calmamente, Melanie, você tem um namorado, lembra?" Lily dá um tapa leve no meu ombro, enquanto Liam balança a cabeça rindo.

Eu dou risada. "O que que é? Só estou perguntando, você sabe que odeio surpresas", digo, levando a salada à boca.

Estamos na hora do almoço e na cafeteria, acho a comida da escola nojenta, por isso, um dos meus seguranças me traz almoço todos os dias.

Não pergunte por que tenho seguranças, porque, honestamente, eu não sei. Cada vez que pergunto à minha mãe, ela desconversa e a conversa nunca se repete.

Minha mãe e eu praticamente não temos relação alguma, ela mal fica em casa. Como é estilista, viaja muito e cada vez que está por perto, controla minha vida, o que é um saco.

A comida que eu como, as roupas que uso e tudo mais tem que atender aos padrões dela. Ela me fez começar a trabalhar como modelo quando tinha 10 anos. Comecei modelando os designs dela e depois vieram ofertas de diferentes empresas por influência dela, claro.

Ela também me fez frequentar aulas de etiqueta, acredita nisso?

Às vezes é difícil conciliar escola e trabalho, mas essa não é uma preocupação da minha mãe. Segundo ela, eu tenho que descobrir tudo sozinha, ela diz que nada vem fácil e que é preciso aprender a ser independente logo na vida. Algumas vezes acho que para ela tudo se resume a dinheiro, por isso fui criada pela minha babá e pelos meus seguranças, ela não tinha tempo para criar sua filha.

Ela parou de me apoiar financeiramente no dia em que me colocou para trabalhar. Apesar disso, sou grata, porque me fez perceber o quanto posso conquistar por mim mesma.

Nem sei quem é meu pai, nunca o conheci ou ouvi falar dele.

Me foi negada a oportunidade de ter uma infância de verdade, nunca fiz o que as crianças normais fazem. Em vez disso, fui forçada a amadurecer aos 10 anos. Por isso, estou saindo de casa o quanto antes, nunca me senti em casa, nem por um segundo.

Após uma longa e cansativa aula de literatura em que não absorvi absolutamente nada, o sino finalmente toca, indicando o fim da aula e do dia.

Deus sabe o quão feliz estou já que hoje não preciso trabalhar. Preciso de um bom descanso porque quase não durmo, especialmente nos dias de escola e trabalho. Às vezes, minha agenda é tão apertada que não tenho tempo suficiente para mim mesma. Então, sempre que tenho tempo, é um dia de sorte, como hoje.

Vamos para o portão da escola com meus dois amigos, que estão com pressa porque aparentemente têm um compromisso.

Acho que na maioria das vezes eles agem de maneira estranha, como se estivessem escondendo algo de mim, mas eu ignoro, talvez esteja apenas sendo paranóica.

Além do meu carro, Jake me espera junto com Axel, um dos meus guarda-costas.

"Oi, querida", ele diz assim que eu chego, me dando um beijo na bochecha.

"Oi, gato", eu o abraço sorrindo levemente para ele.

"Axel", eu o cumprimento e ele me acena com a cabeça.

Só porque eu não gosto da ideia de ter guarda-costas não me faz agir de forma rude com eles, eu os respeito porque sei que estão apenas fazendo seus trabalhos.

Tem sido assim desde que eu os conheci e estou feliz por termos um ótimo e decente relacionamento, melhor do que o que eu tenho com minha mãe.

"Algum plano para hoje?" Jake pergunta, afastando o cabelo do meu rosto.

O que eu deveria dizer, eu quero tomar um longo e demorado banho e apenas dormir até amanhã. Eu me devo isso depois de tanto trabalho exagerado, ainda bem que não tenho dever de casa hoje.

Se eu disser a ele que estou livre, ele vai querer me levar para sair, porque ele tem insistido nisso há algum tempo.

Eu gosto do Jake, mas não há faísca do meu lado, e isso me machuca todas as vezes que estou perto dele. Isso me faz sentir culpada por não retribuir o seu amor. É uma pena não podermos apenas amar alguém porque queremos, é uma questão de escolha do nosso coração.

Então, como sempre, quando ele fala sobre nós fazendo algo juntos, eu mudo de assunto, assim como eu estou planejando fazer agora.

Deus! Eu me sinto uma pessoa terrível por mentir para ele.

Eu pensei que era a melhor coisa a fazer. Eu não queria machucar seus sentimentos, mas agora estou arrependida da minha decisão, talvez eu devesse ter sido honesta com ele ou talvez eu devesse aprender a amá-lo.

"Hoje vou sair com a mamãe", eu odeio mentir.

"Ah, eu pensei que você estaria livre", ele diz, desapontamento na voz.

Agora me sinto horrível.

"Desculpe, Jake, que tal amanhã?" Tenho que arranjar tempo para ele porque isso diminuirá a culpa que sinto toda vez que o rejeito.

Às vezes, eu gostaria que ele fosse um cretino, talvez assim eu tivesse uma desculpa para rejeitá-lo, mas Jake é diferente em todos os aspectos.

"Sério?" ele anima com entusiasmo, seu rosto triste anterior iluminando como se eu acabasse de ligá-lo.

Eu rio "Sim, é sério"

"Obrigado, querida, amanhã te levarei pra sair," ele diz com um sorriso largo.

Caramba! Não quero tirar esse sorriso dele.

Eu sorrio de volta dando um beijo rápido em seus lábios.

"Posso ir agora?" Eu pergunto antes de abraçá-lo e ele me abraça bem forte.

"Vou sentir sua falta, vejo você amanhã, sim?" ele diz olhando nos meus olhos antes de beijar minha testa.

"Até amanhã," eu respondo sorrindo.

Ele abre a porta e me conduz para dentro sorrindo suavemente.

Ele não me merece.

Jake merece algo melhor e me sinto uma droga por mentir para ele.

Por favor, apenas ame-o de volta, eu imploro ao meu coração.

Ele se inclina para frente e beija minha bochecha pela última vez antes de se afastar e eu gemo silenciosamente, puxando os meus cabelos. Odeio mentir porque sei que vou me sentir mal se alguém que eu me importo mentir para mim, e estou fazendo exatamente isso com o meu namorado.

Desculpa, Jake.

O caminho para casa é silencioso.

Eu queria poder conversar com a minha mãe sobre os problemas dos garotos. Eu queria que ela estivesse lá para mim quando eu precisasse dela. Uma menina pode sonhar.

Eu olho pela janela e o tempo lá fora está mudando. O céu azul brilhante está ficando cinza escuro, uma clara indicação da chuva que está por vir. Espero que me encontre em casa.

Apoiando minha cabeça no encosto, relembro o sonho que tenho desde meu 17º aniversário.

Uma loba prateada continua aparecendo nos meus sonhos. Ela está enjaulada e toda vez que olho em seus olhos, é como se ela estivesse implorando para que eu a liberte.

O estranho sonho se repete mas eu sempre o afasto. Não é nada sério, sempre pensei.

Se ao menos eu soubesse...