"Aqui está 300 mil - saia da East City e pare de nos envergonhar!"
Becky Southcott estava lendo fortunas debaixo da ponte quando seu irmão biológico a encontrou.
Ela ergueu o olhar para o jovem desdenhoso à sua frente e disse friamente: "300 mil para comprar sua vida? Isso é meio barato, não acha?"
O garoto bateu o pé, indignado. "Quem você pensa que é? Se mamãe e papai não tivessem nos obrigado a te trazer de volta, eu nem perderia meu tempo com uma fraude como você!"
Becky o estudou - o corpo envolto em uma energia cinza e sombria, o rosto marcado por desgraças iminentes - e concordou com a cabeça.
Se não fosse por seu recente fracasso em avançar e pela previsão de que a família Southcott estava prestes a enfrentar uma catástrofe — e seu próprio destino estava entrelaçado — ela nem teria feito essa viagem.
"Eu vou embora, claro. Mas 300 mil não é suficiente. Que seja três milhões."
Três milhões para cortar os laços de sangue. Ela os ajudaria a sobreviver a esse desastre, e então estariam quites.
Mal tinha terminado de falar quando três pessoas saíram de um carro próximo. Será que ouviram? As expressões deles eram indecifráveis.
Johnny Southcott, ao seu lado, estava inicialmente desconcertado com a chegada repentina dos pais. Mas ao ouvir a exigência de Becky, ele imediatamente se endireitou.
"Mãe, pai, veem? Ela não passa de uma impostora. Três milhões logo de cara - alguém como ela não merece voltar para casa."
A Sra. Southcott claramente não esperava que sua filha perdida fosse uma vidente de rua. Seu rosto escureceu.
Ao lado dela, uma garota impecavelmente vestida rapidamente passou um braço pelo ombro da Sra. Southcott. "Mãe, a irmã deve ter passado por momentos difíceis lá fora. Provavelmente ela não teve escolha a não ser mentir. Não a culpe."
Becky arqueou uma sobrancelha. Então essa era a impostora - o cuco que ocupara seu ninho.
Pele pálida, roupas luxuosas - em todos os sentidos uma princesa mimada.
O Sr. Lin bufou, "Com um par de mãos e pés, não há nada que você não possa fazer de maneira honesta. Por que recorrer a trapaças?"
A Sra. Southcott também estava descontente. Como sua filha pôde trilhar um caminho tão tortuoso? No entanto, ao observar a figura esguia de Becky Southcott, envolta em roupas desbotadas, seu coração se partiu ao pensar na garota vagando sem-teto por mais de uma década. Lágrimas brotaram em seus olhos.
"Mo-Mo, você sofreu tanto," disse a Sra. Southcott, a voz tremendo. "Sou sua mãe. Venha para casa conosco, e prometa nunca mais enganar as pessoas."
Se pudessem apenas trazê-la de volta, talvez uma disciplina adequada ainda pudesse colocá-la no caminho certo... com um pouco de sorte.
Becky os observou. "Vocês têm certeza de que querem que eu volte para casa?"
"Claro," a Sra. Southcott assentiu com lágrimas nos olhos. "Você é nossa filha. Depois de todos esses anos de dificuldades, eu vou compensar isso para você."
Becky ficou em silêncio.
Isso não fazia parte de seu plano original.
Ela só recentemente descobriu sua verdadeira identidade, sempre tendo acreditado ser uma criança abandonada. Deixada à beira da estrada quando era um bebê, ela foi acolhida por seu mestre — um asceta daoísta recluso no sentido mais literal.
Como ele se abstinha de necessidades mundanas, não sabia nada sobre cuidar de uma criança. Becky aprendeu cedo a se virar sozinha.
Felizmente, seu mestre lhe ensinou habilidades esotéricas para sobreviver. Mas anos de existência solitária a deixaram sem familiaridade com laços familiares, e ela há muito deixara de esperar por eles.
Assim, quando calculou recentemente que essa calamidade em seu destino estava ligada à sua família e descobriu sua verdadeira origem, ela apenas pretendia encontrá-los, cortar os laços cármicos com dinheiro e partir — nunca considerando ficar como uma "herdeira verdadeira".
Aquela breve hesitação no comportamento de Becky Southcott foi interpretada de forma bem diferente por Johnny Southcott.
"Mãe, por que insistir com ela? Claramente, ela não quer voltar para casa — ela só está atrás dos três milhões," ele zombou.
O Sr. Southcott também franziu a testa. Três milhões não eram nada para a família Southcott, mas o fato de sua filha, Hodierna, estar aplicando um golpe tão audacioso, exigindo três milhões adiantados, era difícil de engolir para ele. Ela não era nem um décimo tão sensata quanto a Jemma!
Se não fosse pela insistência de sua esposa em trazer a filha de volta, ele nem teria dado atenção à situação.
Becky falou com calma: "Os três milhões são um preço com desconto, considerando que vocês são meus parentes de sangue. A situação de vocês já está crítica."
Outros tinham que pagar pelo menos cinco milhões por seus serviços — isso se ela tivesse tempo. Além disso, a aura cinza e sinistra em torno do Sr. e da Sra. Southcott era ainda mais espessa do que a de Johnny. Se não fosse controlada, eles perderiam pelo menos metade de sua vitalidade.
"Irmã, como pode dizer essas coisas? Está amaldiçoando papai e mamãe?" Jemma piscou, com lágrimas nos olhos. "Ou... você está magoada porque tomei o seu lugar? É por isso que se recusa a voltar para casa e os está chateando de propósito?"
Sua voz tremia ao acrescentar: "Se a minha presença é o problema... eu posso ir embora..."
"Jemma, não fale assim," Johnny interveio, olhando furioso para Becky. "Você sempre será minha irmã — nenhum gato ou cachorro de rua pode simplesmente entrar e te substituir."
Ele voltou seu olhar agressivo para Becky. "Deixe uma coisa clara—mesmo que você volte, Jemma é a única irmã que vou reconhecer!"
Becky Southcott olhou para o pirralho de cabelo espetado, sua expressão claramente dizendo: "Como se eu me importasse."
"Cale-se. Mo-Mo também é sua irmã," a Sra. Southcott reclamou, descontente com a atitude de Becky, mas não disposta a deixar sua filha perdida ser afastada por aquele rapaz insolente.
Estendendo as mãos trêmulas, ela tentou segurar o braço de Becky. "Mo-Mo, sei que você passou por muita coisa. Por favor, venha para casa comigo primeiro, está bem?"
Becky observou a mulher de olhos marejados à sua frente e deu um leve aceno de cabeça após um momento de consideração. "Tudo bem."
Isso seria uma boa oportunidade para ver o que realmente estava acontecendo naquela casa — como conseguiram se envolver em um carma tão pesado. Ela poderia ir embora assim que resolvesse a situação.
Radiante de alegria, a Sra. Southcott rapidamente puxou um cartão. "Mo-Mo, este é um presentinho de boas-vindas meu pra você. Tem quinhentos mil aí. Sei que não é muito, mas vou compensar você depois."
Sem nenhuma falsa modéstia, Becky pegou o cartão.
Quinhentos mil ainda eram insuficientes para cortar os laços cármicos, mas serviriam como um adiantamento por enquanto.
Sua aceitação sem cerimônias provocou outro olhar de desprezo de Johnny Southcott.
"Vamos, vamos pra casa," incentivou a Sra. Southcott.
Mas Becky não se moveu. "Preciso pegar umas coisas primeiro. Encontro vocês amanhã."
A mão estendida da Sra. Southcott congelou no ar. "Mo-Mo... você sabe onde fica a casa?"
"Sei sim," Becky assentiu. Já tinha entendido isso—só não tinha se preocupado em fazê-lo antes.
Johnny soltou um resmungo de desprezo. "Calculista..."
Já que ela sabia onde estava a família, por que não foi procurá-los de propósito? Será que esperou deliberadamente eles a encontrarem primeiro só para se fazer de vítima?
"Então vou junto pra você pegar suas coisas."
"Não precisa." Becky Southcott tirou três amuletos de sua pequena bolsa e entregou-os. "Fiquem com isso até eu voltar."
Sem esperar uma resposta, ela pegou seus pertences na barraca de rua e se afastou.
A Sra. Southcott quis seguir, mas Becky se movia rapidamente—embora seus passos parecessem despreocupados, num piscar de olhos já estava bem à frente. Sem escolha, a Sra. Southcott desistiu.
Jemma Southcott observou-a partir, escondendo o desgosto em seus olhos antes de começar a chorar novamente, com os olhos vermelhos.
"Mãe, Pai, tá na cara que minha irmã não gosta de mim. Talvez eu devesse parar de ficar em casa, assim ela não fica chateada ao me ver..."
Quem diria que a verdadeira herdeira seria tão tonta? Apesar de Jemma não querer nenhuma daquelas tranqueiras, Becky tinha dado um para a Mamãe, o Papai, e até para o Johnny—pra todo mundo, menos pra ela. Não era a oportunidade perfeita?
"Não liga pra ela, Su-Su. Esse tipo de coisa não vale a pena guardar", disse Johnny, jogando o amuleto de lado sem pensar duas vezes.
A Dona Southcott também achou um pouco desagradável, mas como era o primeiro presente da filha, ela envolveu com um guardanapo e enfiou na bolsa.
O Sr. Lin descartou o dele ainda mais rápido que Johnny, depois consolou a Jemma que estava chorando.
"Não chora, Su-Su. Você sempre vai ser a filha preciosa da família Lin. Nunca te abandonaremos."
Quanto à Becky Southcott—eles talvez a criem por obrigação, já que correm nas veias laços de sangue, mas ela não deveria esperar mais do que isso.
Cada um perdido em seus próprios pensamentos, a família entrou no carro.
Ninguém percebeu a névoa cinza turva que rapidamente se reuniu ao redor do veículo enquanto eles iam embora.
