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Seja A Loba Única

Seja A Loba Única

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Introdução
"Não! Não é nada disso!" Eu implorei, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Eu não quero isso! Você tem que acreditar em mim, por favor!" Então, a sua grande mão agarrou a minha garganta, me levantou do chão sem esforço. Os seus dedos tremiam a cada aperto. Ele estava apertando as vias aéreas vitais para minha sobrevivência. Tossi, ofegante, enquanto a raiva dele queimava os meus poros e incinerava a minha alma. A quantidade de ódio que Joaquim sentia por mim era incalculável, e eu sabia que não havia como sair viva dessa situação. "Como se eu fosse acreditar em uma assassina!" A voz do Joaquim era estridente contra os meus ouvidos. "Eu, Joaquim, o Alfa da matilha Shine Star, rejeito você, Cláudia, como minha parceira e Luna." Dito isso, ele me jogou no chão como se eu fosse lixo, me deixando com falta de ar. Em seguida, ele pegou algo do chão, me virou e me cortou. Ele fez um corte sobre a minha Marca de Matilha usando uma faca. "E eu, por meio desta, condeno você à morte." __________________________________________ Abandonada pela sua própria matilha, o uivo de uma jovem lobisomem é silenciado pelo peso esmagador e pela vontade dos lobos que a veriam sofrer. Depois que Cláudia é falsamente acusada de assassinato, sua vida desmorona nas cinzas da escravidão, crueldade e abuso. É somente depois que a verdadeira força de lobo é encontrada dentro dela que pode esperar escapar dos horrores de seu passado e prosseguir em frente... Após anos de luta e cura, Cláudia, a sobrevivente, encontra-se mais uma vez em desacordo com a antiga matilha que um dia marcou sua morte. Uma aliança é buscada entre seus antigos captores e a família que ela encontrou na matilha Dark Sky. A ideia de cultivar paz onde há veneno é pouco promissora para a mulher agora conhecida como Yara. À medida que o crescente ressentimento começa a dominá-la, Yara se vê com uma única escolha. Para que suas feridas purulentas se curem de verdade, ela deve realmente enfrentar seu passado antes que ele devore Yara como fez com Cláudia. Nas sombras crescentes, um caminho para o perdão parece entrar e sair. Afinal, não há como negar o poder da lua cheia - e para Yara talvez o chamado da escuridão possa ser tão inflexível quanto...
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Capítulo

Nota do autor: livro aborda os seguintes assuntos: Abuso, trauma, suicídio, processo de recuperação de trauma e recaída emocional. Portanto, este livro não é adequado para todos os leitores. Embora o argumento principal foque no sobrenatural, lobisomens e magia; a série acompanhará os efeitos do trauma e do abandono vivenciados pela protagonista feminina principal. Se você é sensível aos assuntos mencionados acima, não leia este livro pelo bem da sua saúde mental. Este é o único aviso. A partir daqui a escolha de ler o livro é de responsabilidade do leitor.

Sangue.

O líquido carmesim escorria, cobrindo o meu rosto, ele partia da ferida aberta na minha testa. O seu gosto metálico se misturou com o sal das minhas lágrimas, e me serviu como uma lembrança da surra anterior. O meu corpo estava latejando, enquanto os punhos fantasmas e os sapatos com biqueira de aço se alojavam na minha carne. Sentia como se ainda estivesse sendo espancada. A cada movimento dos meus membros, a agonia se disparava pelo meu corpo frágil, até que me refugiei em um dos cantos sujo da minha cela.

A cela que chamei de lar durante anos. Ela havia testemunhado o amadurecimento de uma criança assustada, se transformando em uma adolescente igualmente assustada. Às vezes, esqueço que as paredes testemunharam mais atrocidades cometidas contra o meu corpo do que sou capaz de lembrar.

Por que fui presa? Suponho que você imagine que sou uma criminosa, que foi julgada e recebeu a sentença: culpada. A verdade é que os membros da minha matilha estavam convencidos de que eu era a responsável pela morte da minha Luna e da filha dela. Estamos falando de 8 anos atrás. A partir daquele dia, eu me lembrei de como eu era uma desgraça para todos os lobisomens. Eu suportei a raiva ardente que irradiava de cada um deles, que se materializava em golpes no meu corpo, agora esquelético. Cada hematoma e corte na minha pele morena passou a ser mensagens que diziam a mesma coisa, em harmonia.

Você merece sofrer.

Não importava o quanto eu gritasse ou chorasse, os meus apelos de inocência caíam em ouvidos surdos. Ninguém estava disposto a acreditar no meu lado da história. Ainda me lembro daquele dia como se fosse ontem, pois ele havia se queimado na minha mente.

Isabella era a filha do grande Alfa Matt e da Luna Ana. Ela era a minha melhor amiga. O meu pai, Laércio, e a minha mãe, Sofia, eram os Betas do Alfa; sendo a minha mãe, a Beta feminina. As nossas famílias eram muito próximas uma da outra; e se incluíam também neste círculo de amizade, os Gamas, Enrique e Hailey. Eu e Isabella éramos como unha e carne. Não era para menos, as nossas mães nos criaram juntas e daí, o nosso vínculo se fortaleceu. Fazíamos juntas tudo o que as meninas costumam fazer; brincávamos de boneca, íamos à mesma escola, dormíamos no quarto uma da outra, enfim, estávamos sempre compartilhando as mesmas atividades. Se uma de nós estava em um determinado lugar, a outra não estava muito longe. Posso dizer que eu era mais próxima da Isabella do que da Priscila, a minha irmã mais velha, ou ela do Joaquim, o seu irmão mais velho. Não me interpretem mal, eu sempre amei muito a Priscila, mas a diferença de idade entre nós, dois anos, fazia com que ela preferisse estar com crianças da sua mesma idade.

A Isabella tinha a doce inocência da mãe e o caráter autoritário do pai. Com o passar do tempo, os membros da matilha começaram a chamá-la de anjo, o que acabou se tornando o seu novo título: "Anjo da Matilha". O sorriso e as gargalhadas dela eram contagiantes. Ela era capaz de iluminar os dias mais sombrios apenas com um sorriso ou uma risadinha.

Os anjos são lindos, e Isabella era uma beleza. Os seus longos cabelos negros desciam até o meio das suas costas. Ela os tinha herdado da mãe. Os seus olhos azuis rivalizavam com o mais azul dos céus. As suas bochechas rechonchudas eram tão 'apertáveis', o que eu fazia sempre que ela me irritava. Eu tinha orgulho de chamar a Isabella de minha irmã. Eu tinha certeza de que cresceríamos juntas e nos tornaríamos uma dupla imparável. As filhas do Alfa e do Beta juntas? Era um time dos sonhos feito pela própria Deusa da Lua.

Naquele dia fatídico, nós tínhamos nove anos, me sentia ousada, o oposto do meu normal comportamento tímido. Isabella era a corajosa, sem dúvida, 'culpa' dos seus genes Alfa. Eu tive a ideia de deixar de lado as regras para brincarmos no nosso lugar favorito: um lago no meio da floresta de carvalhos. Nós costumávamos ir até lá para brincar de pega-pega, fazer tortas de lama ou sonhar com a aparência dos nossos lobos. Os nossos pais sempre diziam que nós não deveríamos ir à floresta sozinhas, por causa de possíveis ataques de bandidos. No entanto, éramos uma dupla rebelde e desobedecíamos.

Acreditávamos que éramos intocáveis.

Enquanto isso, os nossos irmãos mais velhos estavam fazendo tudo o que os pré-adolescentes fazem. Do nosso lado, tocava então a ser desobedientes.

Um belo dia, a Luna Ana, ou a tia Bela, como eu carinhosamente costumava chamá-la, nos seguiu e descobriu o que estávamos fazendo, ela nos repreendeu pela desobediência. Mas eu e Isabella não nos importamos e estávamos prontas para ir de novo. Pelo olhar da tia Bela, ela sabia que isso acabaria acontecendo.

Este dia deveria ter terminado assim. Deveríamos ter voltado para a casa da matilha e continuado a viver as nossas melhores vidas, mas o destino tinha uma maneira doentia de se aproximar de pessoas inocentes.

Eu deveria ter levado a sério os avisos dos nossos pais. A ousadia muitas vezes está acompanhada da estupidez, e naquele dia eu fui muito estúpida. Até aquele dia, nunca tínhamos sido atacadas, por isso eu realmente pensei que estávamos seguras. Foi só quando mais de uma dúzia de cães nojentos correram de todos os ângulos e nos encurralaram, que descobri que não estávamos em segurança.

“Meninas, corram para casa, agora! Não parem até chegar lá!” A tia Bela gritou para nós, antes de se transformar em uma linda loba negra, pronta para nos proteger com todo o seu poder.

Eu e Isabella corremos para salvar as nossas vidas. Nós agarramos a mão uma da outra, e corremos o mais rápido que nossas pernas erram capazes.

Mas não fomos muito longe, um enorme bandido, sem nada a perder na vida, nos separou, literalmente. Me lembro quando olhei para trás e vi o grande bandido, parecia o líder do grupo, rasgando a minha tia como se ela fosse um pedaço de papel. O bandido moreno que havia separado Isabella de mim não teve remorso e nem consciência, pela forma como cravou a garra no corpinho dela. Os gritos da Isabella e da tia Bela ficaram para sempre gravados na minha memória. O sangue inocente delas cobriram o chão denso da floresta. Por algum motivo, eles pouparam a minha vida naquele dia, mas me deram uma mordida profunda no braço direito.

O líder, um grande lobisomem, que então, tinha se transformado em humano, se aproximou de mim com o sangue da Luna pingando da sua mão, rosto e mandíbula. E então, ele estendeu a mão e pintou o meu rosto com o sangue delas, rindo. Eu nunca esqueceria aqueles olhos azuis profundos, quase injetados, olhando profundamente para a minha alma trêmula.

Eu perdi a minha melhor amiga. Eu perdi a minha tia. Os seus corpos mutilados, sem vida, foram deixados em poças de sangue. E tudo que eu podia fazer era olhar. A minha cabeça estava vazia. Eu ainda sentia o calor da mão da Isabella na minha.

Ela não está morta! Ela não podia estar morta!

Certo?

O que aconteceu depois foi um grande pesadelo. O calvário chegou tarde demais porque o ataque aconteceu sem aviso prévio. Um alarme, normalmente tocado pelas patrulhas quando acontece um ataque, não soou. Mais tarde, soube-se que os bandidos mataram os homens das patrulhas, aumentando o número de mortos. Eu ouvi o uivo do coração partido do Alfa Matt quando o vínculo de parceiros entre ele e a Luna Ana murchou e morreu. Eu ouvi os gritos do Joaquim, enquanto ele lamentava a perda da mãe e da irmãzinha; os uivos de tristeza de todos os membros da matilha. Mais tarde, naquele mesmo dia, os líderes da matilha Shine Star informaram a todas as matilhas vizinhas sobre a trágica perda após limpar a cena do crime.

Então, nesse momento, todos os olhos se voltaram para mim. A garotinha coberta com o sangue da mãe e da filha assassinadas. Eu, a única sobrevivente do massacre, aquela que não deveria sobrevivido, passou a ser apontada como culpada. A pergunta era porque eu não tinha morrido.

Por que eu, uma filhote de Beta, tinha conseguido sobreviver, enquanto a nossa Luna e o nosso Anjo tinham morrido?

O que ninguém sabia era a dor que eu senti ao ver minha melhor amiga sendo espancada até a morte, ou os gritos distantes da Luna, que não conseguia suportar aquele ataque sozinha. Joaquim me encarou com uma tristeza nos olhos que era insuportável de vê-la. O Alfa Matt fez uma careta para mim com tanta repulsa, que era impossível para a minha mente infantil compreender o calor da sua raiva. Mas não era apenas o ódio que ele sentia. Havia ódio de todos os membros da matilha contra mim, incluindo dos meus próprios pais e da minha irmã mais velha.

Assim que souberam que a ideia de irmos ao lago foi minha, o meu destino estava selado.

Nesse dia, eu não perdi apenas a Isabella e a tia Bela. Eu perdi a minha família e a matilha inteira, os membros dela nunca mais me olharam da mesma forma. Eu fui oficialmente marcada como uma partícula de excremento de lobisomem. Eu, Cláudia, fui taxada de criminosa.

Com o passar do tempo, Joaquim começou a me odiar também; eu não o culpo por isso. Por minha culpa, ele tinha perdido metade da família dele.

Oito anos se passaram, e eu estava em uma cela de prisão, construída especialmente para o mais baixo de todos os lobisomens. No local havia outras celas, onde os guardas colocavam outros criminosos e bandidos para interrogá-los e torturá-los. Ser colocada na mesma prisão que verdadeiros bandidos dizia muito sobre como eu era visto pelos membros da matilha.

Quando os guardas estavam entediados, eles jogavam os seus 'jogos' comigo. Ninguém poderia detê-los, ou se pudessem, não se importavam em fazê-lo. Eles me cortavam e me espancavam, só para ver o quanto eu aguentaria até desmaiar.

No entanto, isso não era o pior de tudo. Havia um guarda, o que eu mais odiava e o que mais me aterrorizava. Ele levou o jogo a outro nível. Os seus jogos eram diferentes daqueles que eu tinha me 'acostumado'. Começaram quando eu tinha quatorze anos, mas, só conforme eu fui crescendo, entendi o que os seus 'jogos' significavam.

Esses jogos me deixaram arrasada, machucada e me sentindo suja.

Quando eu não estava no frio intenso da cela, eles me colocavam para trabalhar como uma escrava da matilha. Essa era a única razão pela qual o Alfa Matt ainda não tinha me executado; para esfregar o chão da casa da matilha de cima a baixo, lavar a roupa e a louça, eram apenas algumas das minhas tarefas. Eu estava proibida de chegar perto da comida, pois eles temiam que eu a envenenasse.

Os rumores tinham mais peso contra os indefesos.

Os Omegas supervisionavam a culinária. Os seus olhares odiosos não eram novidade para mim. Dar um passo dentro da cozinha da matilha equivalia a cuspir na cara deles. Para lavar a louça era o único momento que me permitiam entrar na cozinha, e esperavam que cada prato estivesse impecável. A cada 'ponto perdido', Rae, a cozinheira responsável, e o líder Omega, me atacavam com uma arma, a que eles escolhessem, que incluía facas. Às vezes, alguns Omegas sabotavam o meu trabalho de propósito, para depois me assistirem sendo espancada. A minha dor se tornou o entretenimento deles e, a julgar pelo sorriso sinistro no rosto de cada um deles, eles não planejavam parar tão cedo.

Às vezes, as surras eram tão fortes, que eu precisava ser atendida pelo médico da matilha. Mas ele agia como o resto da matilha. Ele também me culpava pela perda delas. Então, ele me dava uma leve medicação para dor e me mandava embora. Nem uma única vez ele tratou as minhas feridas. Elas foram deixadas para apodrecer e se curar por conta própria. O meu corpo estava repleto de cicatrizes antigas e novas, que nunca recebiam o tratamento adequado.

Eu não tinha um dia de folga. O Alfa determinou que eu não merecia descansar. Portanto, eu trabalhava sem descanso, do nascer ao pôr do sol; com as mãos num balde de água com sabão, de joelhos, esfregando a sujeira do chão. Nunca houve um momento de paz; o meu balde sempre foi derrubado, ou eu fui empurrada para dentro dele, ou fui atingida aleatoriamente no rosto ou nas costas por um membro qualquer da matilha. Era correto abusar dos escravos, na mentalidade deles. Pois os escravos eram servos, ao mesmo tempo em que serviam como sacos de pancada. Esse era o meu destino.

Eu tive que aguentar tudo. Eu não tinha permissão para gritar, chorar ou implorar. Eu era a boneca silenciosa da matilha Shine Star. As bonecas não falam e muito menos reclamam; elas recebem o tratamento que merecem, segundo quem as domina. Mas a verdade, é que bonecas de brinquedo eram tratadas melhor do que eu estava sendo. Se uma filhote estragasse a sua boneca, a sua mãe as consertava e elas ficavam perfeitas novamente. A filhote ficava feliz até a próxima lágrima.

Eu não tinha ninguém para me 'consertar'. A minha mãe abandonou esse dever e o meu pai preferiu agir como se eu não existisse. Priscila, a minha amada irmã, participou do meu tormento, junto com as suas amigas. Sendo a irmã mais velha, alguém poderia pensar que ela não hesitaria em me proteger, mas pelo contrário, ela sentia um imenso prazer em me machucar.

Mas eu não posso dizer que o abandono deles é o que doía mais. As surras pareciam as mesmas para mim, a menos que fosse dada pelo Alfa Matt ou Joaquim. Dado seu status e a quantidade de poder que fluía através do sangue Alfa deles, a sua brutalidade era suficiente para me deixar incapacitada por vários dias.

Eles me culpavam pelo fim da família deles. Para eles, eu tinha arrancado o coração da nossa matilha. No entanto, no fundo, eu acreditava que eles sabiam que eu era inocente, mas como precisavam de um bode expiatório para seus sentimentos de raiva, eu me encaixava bem nesse projeto.

Apesar de toda a dor pela qual estava passando, eu ainda tinha esperança. Esperava encontrar o meu parceiro um dia, a outra metade da minha alma. Cada lobo tem um parceiro, o seu amante eterno, escolhido pela própria Deusa da Lua. Esperava que o meu parceiro, quem quer que fosse, me tirasse daquele inferno e me amasse como eu era.

Isso era tudo que eu desejava. Aquele pouquinho de felicidade através do vínculo de parceiro.

'Por favor, Deusa da Lua. Conceda-me essa felicidade, salve-me deste lugar!'

'Por favor…'